Em certa ocasião sugeri um tema para um
debate na Rádio Melodia, e por conseguinte, fui convidado para discorrer
acerca do mesmo. Eis o tema: Por que a
igreja do século XX não cumpriu integralmente sua missão diante dos povos não
alcançados? No artigo em apreço, pretendemos focalizar alguns desafios que ainda a igreja hodierna tem pela
frente.
O missionário e antropólogo Ronaldo
Lidório descreve o panorama desafiador que a igreja de nossa era tem que
enfrentar:
Há, perante nós, um desafio étnico. Há,
no munto atual, 2.227 grupos étnicos distintos, sem qualquer presença
missionária ou conhecimento do evangelho. Pressupondo que já entramos nas áreas
mais abertas política, linguística, geográfica e culturalmente, podemos
entender que estes 2.227 PNAs (Povos Não Alcançados) não são mais 2.000 grupos
sem o evangelho, mas sim, justamente, os
mais resistentes em toda a história do Cristianismo. Convivemos hoje com 6.528
línguas vivas. 336 possuem a Bíblia completa; 928, o Novo Testamento completo;
e 918, grandes porções bíblicas. Ou seja,
a Palavra está expressivamente presente em 2.212 línguas. Deixa-nos, porém, com
mais de 4.000 línguas minoritárias e faladas por apenas 6/% da população
mundial, sem nada da Palavra de Deus.
Há, sem dúvida, um desafio missiológico.
Fomos “bombardeados” desde a década de oitenta por uma missiologia que
priorizava alcançar os não alcançados. Nesse afã, começamos a concentrar-nos
como igreja e Agências Missionárias na lista dos PNAs. E hoje, desde que Ralph
Winter, primeiramente, listou 13.000 povos não alcançados nos anos oitentas,
este número baixou para 2.227, e há quem pense que seja ainda menor.
Dentre os grupos menos evangelizados
em todo o Brasil, encontram-se os
Indígenas, Ciganos e Quilombolas. Há ainda mais de 100 etnias indígenas sem
conhecimento do evangelho, sendo 30 delas no nordeste do nosso país. Dentre os
1,2 milhão de ciganos da etnia Calon, cerca de 700 mil não foram apresentados o
evangelho vivo. Das 3.500 comunidades
quilombolas em solo brasileiro, cerca de 2.000 não possuem uma igreja
evangélica entre eles.
São desafios dispersos em todo o
território nacional, diversas regiões
remotas e barreiras culturais , linguísticas e sociopolíticas. É
necessário unirmos as forças.
Eis o grande desafio da igreja
brasileira: evangelizar estes PNAs
(Povos não alcançados) em seu território e nos demais países. Sandra Paula,
missionária há mais de 20 anos em um país da Janela 10X40 , escreve uma triste
realidade: “Somos no mundo inteiro 90.000 missionários e 2.2 milhões de igrejas
protestantes, pela graça fazemos parte dos 7% que dedicam em pregar o evangelho
entre os não alcançados das quase 240 nações do planeta terra.” Já, o Brasil,
possui 42 milhões de crentes e só 0,01 de missionários.
O saudoso fundador da Missão Kairoz,
pastor Valdemar de Carvalho, confirma o perfil da igreja do século XX, em um
artigo publicado no Jornal Mensageiro da Paz, em maio de 1993:
Na
realidade não tivemos a capacidade de preservar os territórios conquistados
pelos discípulos do primeiro e segundo séculos.
A igreja evangélica brasileira é a
segunda maior do mundo, só perdendo para a igreja americana. A igreja americana
já expediu mais de trinta mil missionários para muitas partes do mundo. E nós,
será que temos dois mil missionários transculturais? Se tivermos, quantos estão
produzindo?
O Brasil possui a maior igreja pentecostal do mundo. Mas, o
que estamos fazendo em favor dos bilhões sem Cristo? Será que estamos ‘deitados
em berços explêndidos’, como diz o Hino Nacional brasileiro – enquanto as
nações perecem sem salvação? O que fazer fazer diante dessa tarefa gigantesca? Saiamos todos juntos neste
impulso final da evangelização.
Precisamos analisar nossa teologia bíblica
missionária. Voltar ao Livro de Atos, rever a igreja do primeiro século.
Assumir responsabilidade pessoal e não denominacional. Atos 2.42-47 diz que o
coração da igreja era um e Deus acrescentava em números.
O evangelho é eterno, mas
não temos a eternidade para pregá-lo. Nós só temos o tempo que vivemos para
alcançarmos aquele que vivem enquanto vivemos! – Reinhard Bonnke